A importância de Monti para Bruxelas é exagerada?

26/02/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

Como já aqui demos conta, Olli Rehn endereçou recentemente aos ministros das Finanças europeus uma carta onde explanou sobre o maior enfoque que a Comissão Europeia passará a dar aos ajustamentos estruturais no défice orçamental, abrindo assim a porta a alguma flexibilização nos objectivos nominais de défice. A carta sublinha, contudo, que a consolidação orçamental e a estabilidade política são elementos centrais para sair da crise. Mas a mensagem de Rehn – escrita a poucos dias das eleições italianas – foi também um voto de confiança de Bruxelas a Mario Monti, no qual se sublinha a relevância do italiano e das políticas acordadas com Bruxelas:

 

Para Olli Rehn, as medidas de consolidação orçamental implementadas por Mario Monti, que chegou à liderança do Governo italiano em Novembro de 2011, explicam a redução da taxa de juro italiana para valores inferiores a 5% em Março de 2012. Para percebermos melhor o que Rehn está a dizer, vale a pena olhar para a evolução dos juros a 10 anos de Itália neste período:

 

 

 

 

A evolução da yield italiana confirma o bom momento dos juros nos primeiros quatro meses de Monti. Mas com tantas subidas e descidas parece razoável assumir que há outros elementos em jogo. E há pelo menos um que se destaca, em Itália, como em Portugal: o papel do BCE e de Mario Draghi em particular. Vejamos:

 

a) No final de 2011 a viragem nos juros italianos coincide com a entrada de Monti após a demissão de Berlusconi. O papel de Draghi foi importante neste desfecho, pois o aumento da pressão do BCE sobre o governo de Berlusconi foi um dos factores a pressionar os juros italianos;

 

b) A descida dos juros entre Dezembro e Março de 2012 coincide com o anúncio e concretização dos dois empréstimos a três anos, sem limite, que o BCE concedeu aos bancos europeus em Dezembro de 2011 e Fevereiro de 2012.

 

c) Se a política orçamental de Monti for o factor decisivo na evolução dos juros italianos, então como se explica a subida dos juros que, entre Março de de 2012 e Julho de 2012 escalaram da casa dos 5% para mais de 6%?

 

d) E foi novamente a intervenção de Draghi e do BCE, quando em Julho garantiu que tudo faria para salvar o euro, que voltou a marcar uma inversão das taxas de juro italianas após Julho de 2012 e até ao início deste ano.

 

Perante estes dados parece legítimo perguntar: será que a confiança de Renh em Mario Monti, tal como descrita na carta que escreveu aos ministros das Finanças, exagerada? Há razões para admitir que sim. E se assim for, então é possível que:

 

a) Um eventual afastamento de Monti do Governo italiano (e a percepção de eventual menor tutela de Bruxelas sobre o país) poderá não ter impactos tão negativos sobre os mercados como teria num mundo pré-Draghi – veremos como evoluem os juros, mas por enquanto não chegaram aos 5%, apesar do impasse;

 

b) As consequências deste impasse italiano, mais que económicas em “stricto sensu” , poderão bem ser políticas, nomeadamente na forma como “o poder” de Bruxelas se relaciona com “os poderes nacionais”. Esta tensão já tinha ficado muito evidente na crise grega. Será interessante acompanhar os desenvolvimentos italianos.  

Rui Peres Jorge