Os muitos milhões do futebol
Tem piada comparar nos dias que correm as capas dos jornais desportivos com as dos generalistas. De um lado o drama grego, de um povo que diz não à austeridade e a quem tudo lhes quer tirar, mas vê as ideias da Europa conservadora triunfarem sobre um governo democraticamente eleito. Fala-se de milhões, sim, mas para salvar uma economia que ninguém parece conseguir ressuscitar. Do outro, milhões e milhões em contratações e salários, de clubes que a julgar pelo que se lê têm dinheiro para dar e vender.
Não é assim. E custa entender como podem os emblemas portugueses – e gregos, já agora – continuar a gastar como se não houvesse amanhã. No Porto é Casillas que chega de Madrid e um Imbula milionário. Em Alvalade um treinador que vem ganhar cinco vezes mais do que anterior. Só na Luz parece ter chegado a vez de apertar os cordões à bolsa. Não porque o paradigma seja outro, mas porque a exposição ao Novo Banco dificultou e o passivo precisa de ser acautelado. É tempo de encaixar mais e gastar menos.
Não é só o salário milionário de Jesus. Há muito mais que deve ser questionado
Parece haver milhões a mais no futebol. É estranho que o desemprego tenha levado milhares de portugueses a fugir do país, que estejamos todos a pagar a taxa social única para endireitar as contas e os clubes vivam uma realidade paralela.
Há clubes a quem só o fair-play financeiro impede de gastar ainda mais. E mesmo esse já é fintado com truques de magia. É curioso que o dinheiro que não existe para as reformas, a saúde ou a justiça seja usado em salários e contratações obscenas. É dinheiro russo, chinês, petrodólares ou da Guiné Equatorial. De onde vem não interessa. Como é gerado ainda menos. Desde que investido no nosso clube está tudo bem. Um pouco como quando a miséria só bate à porta dos outros.