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É o cliché mais ouvido após as derrotas e que Rui Patrício celebrizou no “annus horribilis” do Sporting, em que invariavelmente aparecia na “flash interview” a dizer que era preciso “levantar a ca..." /> — ler mais..

É o cliché mais ouvido após as derrotas e que Rui Patrício celebrizou no “annus horribilis” do Sporting, em que invariavelmente aparecia na “flash interview” a dizer que era preciso “levantar a ca..." /> Lado B - Record

Lado B

Como levantar a cabeça?

17 Junho, 2014 0


É o cliché mais ouvido após as derrotas e que Rui Patrício celebrizou no “annus horribilis” do Sporting, em que invariavelmente aparecia na “flash interview” a dizer que era preciso “levantar a cabeça”. Ontem a frase foi novamente proferida. Percebe-se porquê. A estrondosa derrota com a Alemanha deixou marca e essa tem de ser a principal preocupação de quem representa Portugal no Mundial. No entanto, a tarefa tão simplesmente anunciada não é fácil de concretizar. Mais do que os três pontos perdidos, nada que não tenha acontecido várias vezes à Seleção Nacional em jogos a doer, foi a forma como a derrota se deu e as várias consequências.

Portugal desagregou-se por culpa própria. Mesmo considerando eu a expulsão de Pepe ridícula, a verdade é que o central português se dá à morte quando vai ter com Müller. Se na penalidade assinalada a João Pereira já tinha dado para perceber que o juiz sérvio não ia perdoar nada – infelizmente fê-lo, mas no lance sobre Éder –, o central do Real Madrid brincou com o fogo. Sim, houve teatralização do alemão, mas acabou por ser Portugal a ficar com 10 elementos aos 38’, matando a possibilidade de reagir à adversidade. A Alemanha já era superior tendo 11 contra 11, depois fez mesmo o que quis. A juntar à expulsão e à derrota, as lesões de Fábio Coentrão e Hugo Almeida. Muito mais preocupante o primeiro do que o segundo, até porque depois de Cristiano Ronaldo o lateral é provavelmente quem causa mais desequilíbrios na equipa de Paulo Bento. Apostar em André Almeida ou Miguel Veloso é uma das decisões que se segue.

É essencial que os jogadores portugueses interiorizem que nada está perdido. Vencer os dois jogos que faltam colocará certamente Portugal na fase seguinte. Interessa é saber se CR7 pode dar mais do que deu frente à Alemanha, onde foi uma sombra se si próprio, ou se João Moutinho consegue recuperar no Mundial a qualidade que exibia no FCPorto. São dois jogadores essenciais para que a Seleção Nacional renda mais. Depois há a hipótese da aposta em William Carvalho para ganhar na recuperação de bolas a meio-campo, ainda que as exibições nos particulares recentes tenham deixado a desejar.

É Bento quem tem de dar resposta a estas questões. Por exemplo, se a falta de intensidade do jogo português foi causa ou consequência. Terá de fazê-lo em clima de poucos amigos, entre quem já não tem pachorra para o aturar e até quem já afie as facas. Portugal é isto. Memória curta e ambição ilimitada, mesmo quando alicerçada em moinhos de vento.

Não há pingo de vergonha

13 Junho, 2014 0

Se o processo que levou à filtragem de candidatos à presidência da Liga de Clubes não foi bonito, escasseiam as palavras para adjetivar tudo o que se passou depois, com a eliminação de Fernando Seara e Rui Alves na secretaria. Pior, a reeleição do presidente, Mário Figueiredo, com 10 votos num universo de 57 possíveis, prolongando um imbróglio que nada tem a ver com a vontade da maioria dos clubes profissionais.

A verdade é que o que se passou na Liga roça o caso de polícia. O comportamento de Carlos Deus Pereira, quem possibilitou em termos executivos toda a caldeirada, pode ser catalogado abaixo de lamentável. E para utilizar um termo educado. Leio que o secretário de Estado está preocupado. Haja alguém. Espero que Governo e a Federação estejam a analisar tudo e a estudar formas de devolver a legitimidade a quem preside.

Confesso que o papel de Mário Figueiredo no meio de tudo isto me deixa perplexo. Como se sente legitimado um homem que tem 10 votos numa eleição em que concorre sozinho, é coisa que me escapa. É óbvio que sendo advogado de profissão, o madeirense está ali a defender interesses que não são os seus, mas sim de quem tudo tem feito para o manter lá. E se lermos as declarações de Luís Filipe Vieira acerca desta liderança, facilmente percebemos de onde chegam as instruções e quem esteve por detrás de mais um golpe palaciano no futebol português.

É verdade que Figueiredo não passa de um assalariado, mais um, que recebe e cumpre ordens, mas são pessoas assim que nos mostram que nos dias de hoje já não há um pingo de vergonha. Há quem faça tudo para se manter no poleiro. Passando por cima de valores como a honestidade, a dignidade ou o merecimento. Não é a primeira vez no futebol português. Mas este episódio faz lembrar os tempos dos chitos, esses protagonizados por quem já não anda cá.

O papel de Benfica e Sporting em todo este processo é muito questionável. Como o do FC Porto. Que faz e diz uma coisa quando integrado em assembleias com os clubes pequenos e na calada alinha estratégias com supostos inimigos. Tudo isto sempre aconteceu e continuará a acontecer, mas confesso que não deixa de me espantar até onde vai a falta da vergonha. Que Mário Figueiredo consiga ocupar o posto de presidente da Liga sem ruborizar é algo que não consigo perceber. Sorte a de quem tudo consegue fazer para chegar lá acima. E uma vez no tacho não o largar até que tudo esteja bem rapadinho. No fundo, uma boa imagem do que é hoje este país. Feio e triste.

Portugal e a realidade

12 Junho, 2014 0

A tese visionária de que Portugal se deve assumir como candidato a campeão do Mundo está em alta nos últimos dias. Das páginas de jornais aos programas de televisão, a Seleção pode ser campeã do Mundo… porque sim. Há quem diga que é porque tem todas as condições logísticas para lá chegar. Não as teve antes? O que mudou desde os tempos de Scolari ou Queiroz para hoje? Na altura tivemos à frente da equipa portuguesa os treinadores mais caros da história do futebol nacional – só batidos hoje por Jorge Jesus no Benfica – e o brasileiro teve mesmo a oportunidade de disputar uma final de Europeu em casa. De resto, os estágios foram onde os selecionadores desejaram – Óbidos repetente com o brasileiro e Paulo Bento – e tudo desenhado à sua medida. Houve mesmo quem quisesse separar treinadores e técnicos de pessoal de apoio, para que tudo corresse melhor. Acabou com o célebre “perguntem ao Carlos”, de CR7.

Da geração de ouro aos dias de hoje, tirando o trauma da Coreia do Sul e os tristes relatos da África do Sul, os jogadores nunca nos desiludiram. Não ganharam um grande título, é verdade, mas jogou-se bom futebol e batemo-nos de igual para igual com os melhores. É pena não termos conseguido vencer nada com equipas onde estavam Figo, Rui Costa, Paulo Sousa, João Vieira Pinto e tantos outros, mas serão poucos os portugueses que se sentiram traídos. Ainda no último Europeu caímos apenas aos pés da Espanha, campeã, nas grandes penalidades, sendo a nossa a única equipa que chegou a levar nuestros hermanos às cordas por momentos.

Ter Cristiano Ronaldo não nos dá superpoderes. Ajuda, é um facto, como se viu, por exemplo, contra a Suécia. Mas pedir a este grupo de jogadores a conquista de um Mundial, é não só injusto como roça a desonestidade intelectual. Juntando a isto o facto de o melhor do Mundo estar comprovadamente com problemas físicos, percebe-se facilmente (se se quiser perceber, bem entendido) como é complicada a tarefa no Brasil.

Portugal tem uma boa seleção. E um grupo de jogadores interessantes, onde Coentrão, Pepe e Moutinho são acima da média e CR7, claro, estratosférico. Mas sem terem Ronaldo, não haverá seleções mais fortes do que a nossa? Mais coesas, homogéneas, com um nível qualitativo médio superior? Para além disso, algumas com a sorte de terem quase todos os jogadores a alinhar no próprio país? Assim de repente, parece-me que Brasil, Argentina, Espanha e Alemanha, esses sim, são os candidatos. E depois pode haver uma surpresa sul-americana. Portugal? Vamos ver.

O nosso futebol não é só isto

7 Junho, 2014 0

É espantoso como Portugal consegue ter uma Seleção no 4.º lugar do ranking com um campo de recrutamento de jogadores tão reduzido. Como é fantástico que tantas equipas portuguesas tenham chegado à final da Liga Europa. Absolutamente incrível é que o FC Porto de Mourinho tenha ganho duas competições europeias consecutivas. O fenómeno futebol pode e deve ser um orgulho para os portugueses, se for visto pelos jogadores e treinadores. São dois campos em que não ficamos a dever a ninguém, nomeadamente se levarmos em linha de conta que vivemos num país a rondar os 10 milhões de habitantes. Há, infelizmente, o reverso da medalha. Os dirigentes. Não se pode, obviamente, generalizar, até porque nos clubes amadores há homens exemplares, cujo esforço merece medalhas, mas há episódios que nos lembram facilmente que demasiadas vezes eles são o elo mais fraco (ou mais feio…) no futebol profissional.

O triste processo de entrega de listas para as eleições na Liga, as mil e uma manobras de bastidores, o enredo Seara-Rangel e as visíveis alianças e contra-alianças, umas motivadas pela ânsia de poder, outras pelos direitos televisivos, deixam-nos apenas uma certeza. São poucos, muitos poucos, os presidentes em Portugal que estão preocupados com o futebol. Seja o espetáculo ou até o negócio. A ideia é ter armas para vencer mais vezes do que os outros e a forma é coisa que não interessa. Os fins legitimam os meios. É perante um olhar afastado sobre tudo isto e somando ao facto o que são os enormes passivos dos três grandes – uma vergonha num país intervencionado pela troika e em que os passivos bancários obrigaram os portugueses a pagar como nunca – e as dificuldades de todos os outros, que percebermos que há muita gente a governar-se com o desporto que amamos e poucos a defendê-lo. Infelizmente, vença Mário Figueiredo ou Fernando Seara, nada de novo chegará dali. O primeiro já mostrou ao que vinha, tendo como único objetivo atacar a Olivedesportos de Joaquim Oliveira, como se estivesse ali a causa de todos os males. O segundo, tendo passado os últimos anos a defender apenas uma cor num canal de televisão nacional, fica por perceber-se como pode ser garante de isenção ou objetividade. Quase dá vontade de rir. Mas pior, tem por trás outros interesses, no fundo, antagónicos aos de Mário Figueiredo. Benfica e FC Porto, para não ficarem para trás, estão representados nas duas listas, não vá o diabo tecê-las. O Sporting ficará orgulhosamente só. Infelizmente, em Portugal há coisas que não mudam. O lixo espalhado por aí é uma delas.