Lado B

Depois de sexta-feira termos perdido o Zé Guilherme para a mais traiçoeira das doenças, recebo a notícia de novo desaparecimento, desta vez de uma pessoa de família muito querida para mim. São dias amargos estes, em que os que nos são próximos desaparecem perante a nossa total impotência. Custa. Muito. Mesmo muito.

LEÃO DE DOMINGOS TEM MAIS UM TESTE AO ATUAL MOMENTO. E FREITAS CONTINUA À PROCURA DE UM BOMBOM PARA O TÉCNICO.

Os bons resultados e exibições da pré-época deixaram a nação leonina com uma fé como não se sentia há alguns anos. Normal se olharmos ao comportamento da equipa de Domingos e à atuação dos leões no mercado, com ataques pensados e certeiros, de que Rinaudo e Schaars são dois exemplos maiores. Curiosamente, mesmo gastando mais do que o habitual, o Sporting investiu, ainda assim, menos de metade do que FC Porto e Benfica. Sim, parece mais perto dos rivais, mas só um trabalho muito pensado permite esta interessante ilusão.

Afinal, a equipa de Domingos tem uma defesa com mais opções de qualidade do que a época passada, um meio-campo mais batido e poderoso fisicamente e um ataque com mais soluções. Mas se o plantel leonino e as suas soluções forem comparadas às dos rivais diretos, cedo se percebe que há ainda um longo caminho a percorrer. Duque, Freitas e Domingos trabalharam bem mas não fazem milagres. Em Alvalade há mais competência, sim, mas não a quantidade de desequilibradores que moram no Dragão ou na Luz. Só muita sorte em termos de lesões e uma gestão física mais do que competente permitirá aos leões baterem-se com águias e dragões.

Hoje é dia de jogo de apresentação em Alvalade e estão já vendidos mais de 42 mil bilhetes para o confronto com o Valencia. Um número que impressiona e que diz bem do que vai no espírito das gentes sportinguistas. Há no clube quem mereça este elogio dos adeptos e o apoio só pode tornar mais forte uma equipa sem o hábito de ganhar. Mas será preciso mais comedimento precisamente de quem pretende dinamizar as bancadas.

A verdade é quase sempre o melhor antídoto contra todos os males. Percebe-se que o grupo presidido por Godinho Lopes se está a esforçar por fazer um bom trabalho. Salta à vista, por muito que custe a quem ficou tão perto da cadeira do poder. Mas a receita tem de ser transversal a todo o clube.

Importantíssima a vitória dos encarnados frente ao Trabzonspor. Será difícil não seguir em frente na Champions, apesar da deslocação à Turquia não poder ser encarada como uma excursão. Um excelente arranque para a formação de Jorge Jesus.

1986 foi o ano em que o Liverpool ganhou aos rivais de Merseyside, o Everton, por 3-1 em Wembley na final da Taça de Inglaterra e venceu pela primeira vez no mesmo ano o Campeonato e a Taça, o ano em que Spitting Image atingiu o primeiro lugar do top de vendas em Inglaterra com “Chicken Song” e o ano em que Robert De Niro protagonizou um filme chamado “The Mission”.

No entanto, o maior acontecimento cultural do ano foi quando Wayne Hussey, Craig Adams, Simon Hinkler e Mick Brown formaram a banda rock inglesa, The Mission, e começaram a sua cruzada para subverter a juventude da nação com actos de loucura, deboche e rebeldia, como não se via desde os dias dos Led Zeppelin.

Pelo caminho, a banda encontrou tempo para fazer excelentes discos, tocar para plateias lotadas por todo o mundo, acumulando êxitos e lugares nos tops.

Em Outubro de 2011 os The Mission vão voltar com três dos membros originais – Hussey, Adams e Hinkler – para uma digressão por toda a Europa, que chega a Portugal dias 14 e 15 de Outubro, no Hard Club e TMN ao Vivo, respectivamente.

Nas palavras do líder e vocalista Wayne Hussey:

“Quando me perguntaram se queria dar um concerto em Londres para celebrar o 25º aniversário dos The Mission, o meu pensamento imediato foi como é que conseguiria fazer algo mais memorável do que as 4 datas completamente esgotadas em Shepherd Bush, em 2008? Exactamente, o que é que o nosso público quer ver?

E só vamos tocar canções dos álbuns que tocámos juntos, portanto todos os êxitos antigos e nada de novas canções sem sentido, prometo, nenhuma música nova. Se quiserem ouvir canções novas, vão ver um espectáculo meu a solo da próxima vez que eu for em digressão. Sim, esta digressão dos The Mission vai ser só sobre o passado”.

Hard Club | 14 Outubro

Abertura de Portas * 20h00
Início do Espectáculo * 21h00

TMN ao Vivo | 15 Outubro

Abertura de Portas * 20h00
Iní­cio do Espectáculo * 21h00

RINAUDO É A MELHOR IMAGEM DE UMA EQUIPA QUE TRANSMITE CONFIANÇA AOS ADEPTOS. MAS CUIDADO COM A EUFORIA.

Apesar das muitas vitórias e derrotas propagandeadas como dão mais jeito por quem se deixa levar pelos primeiros resultados, FC_Porto, Benfica e Sporting têm ainda muito a limar para a temporada que se aproxima. Mais os grandes de Lisboa do que o rival da Invicta, que tem conseguido manter as joias da coroa, tornando-se assim no claro favorito aos títulos em 2011/12, mas todos com motivos para continuarem a trabalhar, sem festejos antecipados ou desesperos sem sentido, pois as pré-épocas servem para isto mesmo: preparar o que aí vem.

Em relação ao Sporting, são muitas as diferenças quanto ao passado recente. Mais dinheiro para investir, reforços cirúrgicos e em diálogo visível com o treinador contratado, muita ambição nos reforços assegurados, mas ainda mais importante, enorme capacidade de trabalho. O espírito trazido a Alvalade pela dupla Duque/Freitas e colocado em prática por Domingos Paciência faz lembrar o que de melhor Paulo Bento implantou quando, também ele, foi escolhido pelo atual homem forte do futebol: primeiro comer a relva, as vitórias virão por acréscimo.

Aqui um rosto tem ganho relevância: Fabian Rinaudo. O argentino sentou no banco a revelação da época passada e ninguém estranha o porquê. Trabalha do primeiro ao último minuto, tal como André Santos, mas com a agressividade sempre nos limites. Se somarmos a este ritmo, por exemplo, o holandês Schaars, temos dois jogadores que dificilmente deixarão de andar sempre nos eleitos de Domingos. Não é a vitória sobre a Juventus que deve deixar os adeptos leoninos satisfeitos, mas sim a capacidade de pressão da equipa e a forma como ela foi obtida.

A limpeza de balneário pode ser vital para o futebol leonino. Há sangue novo com vontade de triunfar e foram recambiados alguns craques chegados fora do prazo de validade. Mas o leão tem de ter os pés assentes na terra. É capaz de ser cedo para pensar em títulos. A aproximação aos rivais devia ser a meta desejada.

O regresso às vitórias no Torneio do Guadiana vale o que vale, mas na atual conjuntura do Benfica o triunfo acaba por ser tão importante quanto saboroso. A margem de manobra de Jesus esta época é claramente diminuta, quando comparada com as duas anteriores e os percalços com Servette e Dijon deixaram os mais céticos à beira de um ataque de nervos. Sem razão, porque a pré-temporada serve mesmo para isto, para testar, mas a verdade é que tanta crítica deixa adeptos e estrutura do clube a duvidar do que está a ser feito. E isso, sim, é negativo.

Ora o jogo com o PSG serviu para devolver um sorriso ao lábios dos benfiquistas, com claras melhorias em termos de futebol ofensivo. Já se sabia que Cardozo é um goleador e Saviola um craque, mas agora Jara juntou-se à festa e Nolito deixou pormenores deliciosos. Não chega para ganhar mais do que um jogo, é certo, mas mostra que juntamente com Witsel, Gaitán e Enzo Pérez existe ali matéria-prima para o técnico montar uma formação temível quando se fala de ataque.

Cá atrás é necessário mais paciência. Javi é claramente mais forte do que Matic e está a jogar fora de posição e no centro da defesa faltam Garay e Luisão. É certo que se fala da saída do capitão – que, para líder de balneário, vive demasiadas vezes esta novela da saída, em claro contraciclo com o amor que os benfiquistas lhe dedicam e o muito dinheiro que já ganhou na Luz –, mas para que se vá, será certamente necessária uma boa proposta e uma solução credível. Ainda assim, confesso, parece-me um erro perder o brasileiro nesta altura. Obrigará Jesus a refazer a o eixo defensivo, ponto nevrálgico de qualquer onze ganhador.

A vitória sobre os franceses nada mudou e o Benfica continua a ter muito que fazer. Mas na pré-época é importante andar feliz e juntar às cargas físicas a alegria dos troféus de verão. Jesus ganha tempo para continuar a construir uma equipa. Estão lá os craques pedidos: mãos à obra!

CHEGOU A HABITUAL GUERRA DE MERCADO BENFICA-FC PORTO. DRAGÕES LUCRAM NOS ÚLTIMOS ANOS MAS A SITUAÇÃO NÃO DEIXA DE SER RIDÍCULA

Já estávamos com saudades. Este defeso ainda não tinha havido o habitual e tonto número de Benfica e FC Porto em guerra pelos mesmos jogadores no mercado. As contratações de Falcão e Alvaro Pereira estão ainda na retina e isso faz com que os dragões se riam de toda esta situação, mas confesso, não deixa de me parecer ridículo que dois clubes portugueses não tenham mais nada para fazer do que perseguir exatamente os mesmos jogadores. Não me interessa muito saber quem mais ganhou ou perdeu com a brincadeira até hoje, pois a única certeza que fica é que ambos tornaram mais caras as contratações contrárias. E se os passivos gigantescos dos três grandes não chegassem para nos mostrar como todos são mal geridos, esta situação devia chegar para fazer corar de vergonha quem os lidera. Mas não, claro que não, os adeptos deliram e os dirigentes de ambos os lados cedem aos seus caprichos, gastando exacerbadamente o dinheiro que – nunca se lembram – não é deles.

Cada vez que águias ou dragões se atravessam num negócio já iniciado pelo rival, o jogador sai muito mais caro do que inicialmente previsto. Mas quando sucede no mercado nacional ainda se percebe. O campo de recrutamento é menor e são três emblemas a desejar os melhores do seu país. Quando acontece ano… após ano… após ano, com jogadores dos quatro cantos do globo, já cheira a incompetência. Como é possível que com tantos olheiros, scouts e especialistas de mercado acabem por desejar todos o mesmo? Simples, quem manda são os empresários e os clubes portugueses compram mais aquilo que lhes é oferecido do que o que verdadeiramente precisam.

Enquanto estas tricas entretêm os menos esclarecidos, casos como Moutinho e Luisão deviam ser, sim, o alvo de todas as atenções dos dirigentes. Porque se Chelsea leva o médio e PSG o central será muito mais difícil ganhar. Mas não, giro é andar a brincar aos polícias e ladrões.

BENFICA E SPORTING COM ESTADOS DE ESPÍRITO DIFERENTES. ENTRE MAIS E MAIS REFORÇOS E DISCURSOS DE ESPERANÇA

O Benfica continua muito ativo no mercado e ontem foi dia de fechar com Witsel, médio belga de boa capacidade técnica e a quem se augura grande futuro. Mais uma arma poderosa para Jesus, que chega à Luz com um contrato de 5 anos e a troco de 8 milhões. Não será para a posição que o clube da Luz estará mais necessitado mas é um valor que promove a concorrência tanto para número 10, a posição natural, como nas alas, onde também pode ser colocado. Sim, depois do que já vimos, talvez um central fosse melhor, mas Witsel pode vir a ser craque.

Enquanto chega o belga, quem estará a fazer as malas é Mora. O uruguaio ainda não fez um minuto sequer nos dois particulares disputados pelo Benfica e Jesus já pondera a saída. Junta-se assim a nomes como Melgarejo ou Leo Kanu, jogadores também contratados esta temporada e que já foram emprestados. Não é que não suceda noutros lados, mas esta época o Benfica está a usar e abusar do expediente, com custos óbvios para os cofres do clube, pois a maior parte dos salários continua a ser pago pelos encarnados. Incompreensível.

Do outro lado da Segunda Circular o discurso de esperança de Luís Duque à partida para a Holanda diz muito sobre o atual de espírito que se vive em Alvalade. Os leões conseguiram a maior parte dos primeiros objetivos de mercado, arrumaram a casa e estão a tentar dar a Domingos todas as armas possíveis para a realização de uma Liga que faça esquecer as duas anteriores. Creio que está a ser cometido um erro de comunicação quando se aponta já ao título em vez de se explicar aos adeptos que existe hoje uma grande diferença de valor entre Sporting e Benfica e FC_Porto. Mas esse é um dos calcanhares de Aquiles da gestão de Godinho Lopes. Tem mostrado competências em várias áreas mas continua a não levar a sério a comunicação do futebol, mantendo aliás alianças com amigos da onça. Erros que poderá pagar mais tarde sem necessidade nenhuma.

JOGOS DE PREPARAÇÃO SERVEM PARA ISTO MESMO: TRABALHAR O QUE ESTÁ MAL. E CHEGA DE ERROS DE CASTING!

Depois do “teste” contra uns rapazes recrutados à pressa para suprir a ausência do Nice, o Benfica mostrou ontem frente ao Servette que tem ainda muito que trabalhar para chegar ao nível que os adeptos desejam. Nada mais normal, principalmente quando se disputam dois jogos em apenas 48 horas. Não devem os simpatizantes desesperar com o empate, da mesma forma que terá sido estúpido embandeirar em arco com os 9-1.

São muitas as ausências na equipa de Jesus e se é verdade que os problemas defensivos continuam a ser notórios – foi agora a vez de Jardel e Artur facilitarem, com as culpas maiores a pertencerem ao central –, há que assumir que os titulares ainda não chegaram. Ou seja, na direita jogará Maxi (acreditando que o Benfica não vai facilitar esta estranha vontade de sair), no centro Luisão e Garay e na esquerda um dos laterais que o Benfica ainda vai contratar. Ou seja, não são os golos sofridos nos dois últimos jogos que preocupam, ainda que curioso, sim, seja o facto de os encarnados encaixarem golos desde 24 de fevereiro. Tão estranho quanto ridículo.

Complicado de entender é como é que o Benfica tem neste estágio laterais recentemente contratados – Wass e André Almeida – e nenhum mostra capacidades para se afirmar como titular. Que raio de contratações são estas, que não aquecem nem arrefecem e que hoje por hoje parecem servir apenas para tapar buracos? Para não falar de casos como o de Miguel Vítor, antes despachado para Inglaterra, ele que está a anos-luz em termos de classe e maturidade quando comparado com Jardel. Na Suíça estão ainda Ruben Amorim e César Peixoto, qualquer deles melhor lateral adaptado do que os atrás citados. Porque ainda não jogaram, não sei, mas acredito que Jesus esteja a querer mostrar que precisa mesmo de defesas. Mas dos bons, para jogar. Ansaldi, Alex Sandro e Danilo são os senhores que se seguem. O Benfica anseia por eles. Tem é muita tralha para mandar embora.