Honores liga

O primeiro dia dos sorteios europeus, o da Champions, foi simpático para os clubes portugueses. FC Porto – Zenit, Atlético Madrid, Austria Viena – e Benfica – PSG, Anderlecht, Olympiacos – devem apurar-se para a fase seguinte com menor, os dragões, ou maior, as águias, dificuldades.

Já o sorteio da Liga Europa não foi nada feliz para os emblemas nacionais. O V. Guimarães defronta Lyon (França), Betis (Espanha) e Rijeka (Croácia); o Paços joga com Fiorentina (Itália), Dnipro (Ucrânia) e Pandurii (Roménia); o Estoril mede forças com Sevilha (Espanha), Friburgo (Alemanha) e Slovan Liberec (Rep. Checa). Até no último adversário dos grupos tivemos azar porque das equipas do Pote 4 calharam-nos as mais complicadas.

Perante este cenário, parecem-me ter todos o destino traçado. Dificilmente alguma das três vai conseguir passar à fase seguinte mas acredito que vão conseguir alguns pontos.

O soteio aconteceu horas depois do Sp. Braga ser eliminado, em casa, pelos romenos do Pandurii. Esperava ver quatro equipas na fase de grupos, seria fantástico, mas os minhotos conseguiram ser a surpresa negativa do playoff. Com a eliminação, acredito que a equipa de Jesualdo Ferreira consiga intrometer-se na luta pelo título nacional. Vamos ver se o Sporting também está nessa corrida.

Quem é cliente aqui do blog já leu muitos textos nos quais defendi os árbitros, principalmente pela sua difícil missão. Tal como já critiquei muitos treinadores por se desculparem com os erros dos árbitros, como se eles próprios e os seus jogadores não errassem nunca.

Na 2.ª jornada houve um lance polémico mas como não aconteceu nos jogos dos grandes não passou muito nas televisões. No entanto, o treinador alegadamente prejudicado só falou dessa jogada, pois considerou-a como a principal causa da derrota.

Mais engraçado: por ser adepto do clube alegadamente beneficiado, lá ouvi as piadas dos meus amigos: “só assim, com penáltis destes…” 

Por isso, dei-me ao trabalho de ver várias vezes o lance do Arouca x Estoril, até porque na primeira vez estava a olhar para a bola – provavelmente como o Pedro Emanuel – e a falta acontece um pouco mais ao lado. Para azar do treinador, o árbitro Manuel Mota estava mesmo de frente para o prevaricador, viu bem e assinalou penálti. Mais, expulsou Nuno Coelho que, não satisfeito com a asneira da falta, ainda prejudicou mais a equipa ao reclamar com o juiz.

Aqui está a prova, devidamente assinalado o Yohan Tavares (de laranja) de braços abertos, totalmente abraçado por Nuno Coelho. Também se pode ver o árbitro Manuel Mota virado para os dois.

Acontecem vários lances destes em todos os jogos? Sim, acontecem.

Os árbitros, normalmente, assinalam penálti? Não, normalmente não.

Deviam assinalar sempre? Sim, deviam (deixavam de existir).

Manuel Mota fez bem em assinalar penálti? Claro, foi penálti.

Aqui fica a imagem (e se alguém a fizer chegar ao treinador do Arouca, agradeço, ganho mais um leitor)

Terminou a carreira um dos maiores craques que vi jogar no futebol português e na Seleção Nacional. Muito obrigado pelos momentos de magia, Deco.

Dizia um treinador, já não me lembro qual, aos seus jogadores: “não reclamem com o árbitro porque ele nunca volta atrás”. Até hoje só me lembrava de ter visto (na tv) um juiz assinalar um penálti e, depois de falar com o auxiliar, assinalar apenas canto. Foi num FC Porto x Marítimo, no Dragão e, salvo erro, foi Carlos Xistra quem voltou atrás, e bem porque o defesa dos verde-rubros tinha desviado a bola com a cabeça e não com o braço. Na altura, o árbitro até chamou Bruno Alves, capitão dos portistas, para explicar a mudança, aceite sem grandes ondas.

Pois bem, esta noite assisti a situação idêntica, agora ao vivo. Na Amoreira, no Estoril x Pasching, num contra-ataque muito rápido dos austríacos, o guarda-redes Vagner derrubou o avançado. O turco Bulent Vildirim apitou e apontou para a marca do castigo máximo. Os jogadores do Estoril apontaram imediatamente para o auxiliar, o juiz voltou atrás na decisão e assinalou apenas canto.

No Estádio, longe do lance, não percebi bem o que se passara mas acreditei no auxiliar, de frente para o lance. Mais tarde, vi a repetição na tv e, afinal, quem fez asneira foi o árbitro auxiliar porque Vagner derrubou mesmo o avançado mas fora da grande área. Devia ter sido assinalado livre e o guardião também escapou ao cartão, não sei bem qual seria a cor certa neste lance.

Por último, um pormenor. Na Amoreira, a propósito do post que escrevi sobre alguns benfiquistas quererem a derrota do Paços de Ferreira, um adepto do Estoril contou-me que viu nos blogs dos adeptos encarnados desejarem a eliminação do Estoril. Se consigo perceber esse desejo para com o Paços – embora não concorde – já em relação ao Estoril fico espantado. Parece que os canarinhos são inimigos das águias por terem empatado na Luz na última época. Mas os benfiquistas queriam o quê? Que o Estoril fosse à Luz jogar para perder? Enfim…

O duelo entre os meus dois favoritos à promoção acabou com uma histórica goleada do Moreirense ao Chaves (7-0). Os cónegos já estão no topo da tabela embora em igualdade pontual com FC Porto B e Penafiel, e é esta equipa que motiva este post. 

No início da época coloquei Moreirense e Chaves como favoritos à subida e escrevi aqui no blog que aguardava por surpresas de outras três equipas: Farense, Leixões e Penafiel – na altura faltou-me o Tondela, por esquecimento.

Pois o Penafiel está mesmo imparável. A equipa de Miguel Leal venceu as seis partidas oficiais esta época: três na Taça da Liga e outras três na Honra. No entanto, há um pormenor a ter em conta, jogaram quatro desses seis jogos em casa e não sei se o registo fora do 25 de Abril vai ser sempre tão consistente.

De qualquer forma, os rubro-negros são uns dos grandes animadores deste início de época, entre as equipas do segundo escalão profissional. Depois de bater o Sporting B, por 2-0, o Penafiel vai agora defrontar as formações secundárias de dragões e águias – mais dois duelos que prometem.

Simpatizo com o Paços de Ferreira. É um daqueles clubes bem geridos, cresceu, fixou-se na 1.ª Liga e sempre apostando em portugueses, treinadores e jogadores. Não é exemplo único, sinto o mesmo pelo Rio Ave e o Marítimo, e antigamente o Farense conseguiu algo do género.

Pensei que a maioria dos adeptos partilhasse a minha opinião em relação aos castores. Acreditava que sim, até hoje. Durante o dia, nas redes sociais, vi muitos adeptos a desejarem a derrota pacense frente ao Zenit, e logo por 5 ou 6 nos dois jogos.

A última jornada da Liga 12/13 ainda está bem fresca na memória dos benfiquistas e a nova política pacense, de amizade com os dragões e com Jorge Mendes (via Costinha), torna o clube da Capital do Móvel num novo inimigo das águias.

Também não gosto de ver a aposta em Costinha mas vou torcer pelo sucesso (muito pouco provável) do Paços, como faço em relação às outras equipas portuguesas.

Estar de férias permite, entre outras opções muito melhores, arranjar tempo para arrumar papéis e coisas do género. Durante a tarefa tropecei numa página de jornal com a crónica de um jogo, do início de uma época não muito distante. Reli a escrita de então e sorri por recordar que fui acusado de estar a fazer a cama a um treinador (à acusação respondi que contei apenas aos leitores o que vi durante o jogo, como faço sempre).

Lembrei-me depois de uma conversa um pouco mais antiga, no final da época anterior, com um dirigente do clube em causa, convencido eu de que o técnico não tinha condições para continuar depois de uma temporada desastrada.

Foi mais ou menos assim:

– Então e treinador para a próxima época, já pensaram?

– Vai ser o mesmo, confiamos nele.

– Mas isso não é um risco? Acha que ele vai mudar?

– Acreditamos que sim. Você acha que não?

– Os resultados dizem tudo, rematei.

Começou a nova época e não se registaram melhorias: Empate caseiro contra um candidato à descida; derrota fora frente a outro candidato à descida; vitória caseira sofrível (1-0); empate milagroso fora (conseguido no último minuto); empate caseiro (0-0) com exibição muito fraca – o tal da minha crónica.

No dia seguinte a este último empate, de manhã, recebi um telefonema. Do outro lado, o dirigente com o qual tivera a tal conversa no final da época anterior.

– Alô Miguel, já viu o nosso site?

– Não, não vi. Há novidade?

– Há, vamos mudar de treinador.

– Pois, afinal não mudou nada…

– Temos de saber admitir os erros e mais vale agora enquanto há tempo para recuperar.

No final da época a equipa conquistou o objetivo.

Se antes da jornada me pedissem um palpite sobre o Vitória x FC Porto, daria mais de 90 por cento do favoritismo aos dragões, ou seja, venceriam facilmente num estádio onde não perdem há 30 anos. Se me pedissem o mesmo palpite ao intervalo, e depois do que vi na 1.ª parte, já daria 50 por cento a cada. Se o pedido fosse após o penálti do 1-1, daria 100 por cento ao campeão nacional. O futebol terá sempre esta magia, faz-nos mudar de opinião várias vezes em hora e meia.

Fiquei agradavelmente surpreendido com o Vitória da 1.ª parte. Há muitos anos não via uma equipa do clube jogar tão bem, talvez desde os tempos daquela equipa de Yekini e companhia. Também me lembrei várias vezes do futebol do Leixões de José Mota, que há uns anos chegou a liderar a Liga.

O lance do penálti acabou com o jogo, ou com as hipóteses do Vitória. Pouco depois já o facebook (meio que permite a todos opinar em direto) estava inundado com críticas a João Capela. Fico triste de ver a cegueira sobrepor-se à razão. Que culpa tem Capela da imprudência de Dani – mal Jackson ganhou posição estava mesmo a ver-se que o defesa ia fazer falta. Que culpa tem Capela de Kieszek responder à cabeçada ao empurrão de Josué? 

No início da carreira não acreditava nada no árbitro lisboeta pois vi-o cometer erros ao nível de Bruno Paixão, mas com o tempo mudei de opinião e hoje considero-o um bom árbitro. Se houve um grande erro de arbitragem no jogo foi o golo não validado a favor do Vitória, pareceu-me que Otamendi já tirou a bola para lá da linha, mas quem devia ter validado era o auxiliar.

De resto, do jogo do Bonfim, fiquei impressionado com o avançado Cardozo e com vontade de ver mais de Rafael Martins. Parece-me que esta época o Vitória não vai sofrer como nas anteriores.

Faltam 29 jornadas para acabar a Liga mas não consigo evitar um pensamento: se o FC Porto for campeão depois de ter deixado sair Moutinho e James e de se ter reforçado no Paços de Ferreira (Josué) e no Estoril (Licá), que poderão pensar os benfiquistas quando o seu clube se reforçou com sérvios (não coloco em causa o valor) e com um lateral-esquerdo como Bruno Cortez?

Por último, gosto de ver as conferências de imprensa de Paulo Fonseca. Um treinador que chegou ao lugar por ter mostrado valor por onde andou e cujo discurso não mudou por ser treinador do FC Porto.

Claro que fico curioso em relação à forma como vai falar após a primeira derrota. No entanto, o facto de não ter de ouvir o discurso do treinador anterior – colocado no lugar sem ter feito nada para isso – já me parece uma excelente lufada de ar fresco.

O Benfica perdeu. Curiosamente, perdeu no mesmo relvado onde há poucos meses festejou o título da época passada… Vi o jogo e parece-me óbvio que falta algo a esta equipa. Falta Cardozo. E como duvido que o Benfica consiga contratar outro jogador como ele, acho uma grande asneira o paraguaio não estar lá. Podia o jogador continuar no clube depois da cena do Jamor? Podia, mas não com o mesmo treinador no clube. E como a opção foi a de manter o treinador… De resto, até me cansa ver o trabalho feito pelo Lima, um super jogador, e não consigo prever o que vai dar este Benfica pois não sei quais os jogadores que vão sair nos próximos dias. Na defesa, por exemplo, se sair Luisão ficam a ganhar; se sair Garay ficam claramente a perder. No jogo dos Barreiros também gostei de ver José Sá a titular na baliza do Marítimo.

O Sporting é líder. Acho Leonardo Jardim o melhor treinador do clube em muitos anos e se a direção dos leões cumprir com o discurso – se não o despedir após umas derrotas – a recuperação do Sporting está em marcha. Ainda não o vi muitas vezes mas este Montero parece-me melhor do que Wolfswinkel, e com um hat-trick na estreia promete bastante.

Fiquei contente com o golo de Wilson Eduardo, um jogador que admiro e há muito merecia a oportunidade de ficar em Alvalade. Não me parece que este Sporting vá lutar pelo título – até porque não vai defrontar sempre a defesa do Arouca – mas mostrou capacidade perante um resultado negativo, algo que os leões dos últimos tempos raramente conseguiam. Fico ansioso pelo dérbi da 3.ª jornada. 

Péssimo regresso do Belenenses à 1.ª Liga. Não vi a derrota  caseira (0-3) com o Rio Ave mas a opinião já a tinha antes deste jogo: o Belém não pode disputar a 1.ª Liga com o plantel que venceu a 2.ª. Precisa, pelo menos, de mais experiência na defesa e de um goleador.

A 1.ª jornada teve 26 golos, um bom número para começar, e não teve empates, algo pouco vulgar.

Na 2.ª Liga há sete equipas com duas vitórias, entre elas os meus dois mais fortes candidatos à subida: Chaves e Moreirense.

NOTA 1: Quando escrevi que gosto de ver Paulo Fonseca nas conferências de imprensa não me referia à de ontem pois não gostei da troca de galhardetes com José Mota. Nessa aspeto até estou do lado do treinador dos sadinos (não em relação aos lances de ontem): quando se fala de barriga cheia…

NOTA 2: Escrevi que houve um grande erro de arbitragem no Bonfim, referindo-me ao golo não validado ao Vitória. No RECORD de hoje vi as fotos e fiquei esclarecido: houve dois erros pois a bola também entrou no lance da 1.ª parte.

Já conhecia a fama de a companhia aérea israelita ser a mais segura do mundo. Até já estava preparado para ser interrogado no aeroporto de Lisboa, antes de voar para Israel, de onde escrevo. Não esperava era um número tão grande de perguntas, algumas delas… Enfim.

Antes de embarcarmos, eu e o companheiro de trabalho de outro jornal, fomos abordados por um agente (à paisana) da segurança israelita. Depois de saberem que éramos jornalistas, separaram-nos e os interrogatórios foram feitos por pessoas diferentes. Calhou-me um senhor com um ar sério, dos seus 50 e muitos anos, pronto para descobrir, num inglês ao qual, algumas vezes, faltou vocabulário, se eu era mesmo jornalista.

– O que vai fazer a Israel?

– Vou em trabalho, sou jornalista e há um jogo de futebol.

– Que jogo?

– Hapoel Ramat Gan-Estoril.

– Quando é esse jogo?

– 5.ª feira à noite.

– Não ouvi falar de nada. De certeza que há jogo?

– Sim, é a 2.ª mão, é uma eliminatória da UEFA.

Não vou escrever todas as perguntas e respostas. Porque não sei se me lembro de todas e para não tornar o post maçador. Salto, por isso, várias questões, algumas até questões engraçadas, como “tem alguma faca ou pistola na sua mala?”, feitas sempre com o ar mais sério do mundo, por alguém que parecia incapaz de sorrir.

Mostrei a edição do Record com o jogo da 1.ª mão, para provar que trabalho num jornal, mas não o devia ter feito.

– Se você é jornalista, porque não está aqui o seu nome neste jogo?

– Não trabalhei nesse dia?

– Não trabalhou? Porquê?

– Estava de folga.

– De folga? Quantos dias você folga por semana?

Lá íamos nós outra vez…

– Bom, então se você conhece bem esta equipa do Estoril, qual é o melhor jogador?

– Há varios bons, é subjetivo dizer qual é o melhor.

– Não entendi. Qual é o melhor?

– Ok, é o Carlitos.

– Carlitos? Qual é o número dele?

– 70.

– 70? De certeza?

– Ah, espere, 70 era na época passada, agora acho que é o 20.

– Hum…

Senti-me como num concurso de televisão, confiante de estar a vencer mas a considerar as perguntas cada vez mais forçadas. A pedido do agente, abri o computador e mostrei emails trocados entre o Record, a SAD do Estoril e um assessor de imprensa do Ramat Gan. Ficou convencido. Eu era mesmo um jornalista para fazer a reportagem do tal jogo estranho. 

– Perguntei: Está tudo bem? Posso seguir?

– Sim, desculpe, é o nosso trabalho, respondeu sem mudar de feição.

Meia hora depois, à entrada do avião, o mesmo senhor. Já com um ar despreocupado, provocou: “Ramat Gan vai passar… Agora a sério, aproveitem e vão a um rastaurante muito bom –  disse depois um nome impercetível. Vão lá? Vou telefonar ao dono e dizer para colocar algo na vossa comida, para vocês escreverem que o Ramat Gan é melhor do que o Estoril”, rematou com o seu único sorriso do dia. “Não me parece…”, respondi.

Tel Aviv, 8 horas depois. À chegada ao hotel, o rececionista estranhou ver ali um português.

– Vem de férias?

– Não, em trabalho.

– Qual é o trabalho?

– Sou jornalista,venho fazer reportagem do jogo de 5.ª feira; Hapoel Ramat Gan x Estoril, de Portugal.

– Que jogo é esse?

– Amigo, desculpe, mas não quero falar disso…

Tropecei nesta foto, que não conhecia, e resolvi partilhá-la com os leitores. Zico e Maradona, dois dos maiores génios da história do futebol. Deve ter sido tirada no início dos anos 80.