Bola na Área

Se calhar o problema foi mesmo esse – o de não ter faltado qualquer coisita.

Agora que terminou o México-Holanda reparo que nas redes sociais começou o ataque a Pedro Proença.

Vi o jogo nas calminhas e o que vi foi um trabalho impecável de Proença, Bertino Miranda e Tiago Trigo (obrigado André!). Um trabalho perfeito!

Mas parece que o povão se tomou de amores pela seleção do México. Os mariachis até nem jogam mal mas entre o exuberante Miguel Herrera e o Jorge Regadas continuo a preferir o segundo.

A verdade é que estamos transformados num país de mundialistas, começando na sensibilidade perante o trabalho dos nossos comentadores. É no que dá contar provavelmente com o melhor naipe de comentadores desde há muitos anos, a começar no Luís Freitas Lobo e passando pelo António Tadeia ou o Bruno Prata, sem me esquecer, claro, do Pedro Henriques, que é o meu preferido.

Todos eles comentadores independentes, bem informados, um até com veia poética, outro com queda metafórica, outro num registo que parece que nos vai adormecer mas nos desperta para o jogo e ainda um outro com um descaramento que, acreditem, adoooooro. Mas nada disto importa porque o pessoal da tasca do vinho a 60 cêntimos e do café da mini a 80 nasceu ensinado e sabe de bola como ninguém, embora suspeite que se lhes dessem um micro para debitar bitaites iam parecer aqui o rapaz a rezar missa depois da boda.

Em suma, somos um país de especialistas de futebol e sobretudo de especialistas em Mundial. O facto de termos perdido a nossa referência é completamente irrelevante e apenas estimulou a nossa capacidade de dissertação.

Para que não fiquem dúvidas, e antes de ir ali à tasca ver o último jogo do dia, pois a RTP não percebeu que transmitir todo o Mundial é serviço público e não tenho 40 euros para dar pela Sport TV, também tenho uma seleção favorita: a Argentina. Quanto ao comentador, já perceberam qual é. O outro é um alienígena e dá pelo nome de Carlos Daniel.

PS – Recordou o meu amigo Paulo Pinto as palavras de Mané Garrincha: “O Chile só ganha ao Brasil em terramoto e mesmo aí perde para o Peru”.

Lá fomos, como o diz povo desde quinhentos, de vela virada.

Saldo do Mundial:

– Uma vitória sobre um Gana em pé de guerra.

– Um empate com a poderosa equipa de soccer dos Estados Unidos.

– Uma goleada frente à Alemanha que nos governa.

– 12 ecografias.

– 8 ressonâncias magnéticas.

– 14 mialgias.

– Outras tantas suspeições lesionais.

– 50 quilos de bacalhau e 40 litros de azeite.

– 2.876.890 minis.

– 23 toneladas de tremoços.

– Um golo do melhor jogador do Mundo e 3 penteados.

 A seleção que estagiou em Campinas, e que não devia dar pelo nome de Conquistadores (uma fantástica originalidade) mas de campinos, volta agora para casa. Espero que todos sejam homenzinhos e façam bem as malas depois de pegarem na espada e de se espetarem contra a parede.

Ah, claro, releve-se o facto de desta vez Paulo Bento não ter acabado em 2.º lugar!

Das penosas conferências de Imprensa desta 2.ª feira de Humberto Coelho e de Henrique Jones apenas se retiram duas coisas.

Portugal está neste Mundial em modo de suspeição lesional.

A nossa seleção tem de ter mais jogadores portugueses.

Assim se prova que é sempre pior o magno que o corneto e que as piscinas dos hóteis devem ser mais aproveitadas.

Fernando Nogueira, popularmente conhecido como Bruxo de Fafe, não tem dúvidas: “Portugal está arrumado do Mundial”. Para além desta apreciação global, o especialista em ciências ocultas garante que, após observar fotografias recentes dos jogadores chamados por Paulo Bento, que os craques da seleção nacional “estão possuídos pelo mau olhado e pela má inveja”, o que resulta “de ações que nada têm a ver com a competição que estão a disputar mas apenas com questões relacionadas com a sua vida particular e os concorrentes dos clubes onde jogam”. Contra isto, diz, só há uma coisa a fazer: “Chamar um especialista, rezar alto e abrir os caminho”.

Tirando o cruzamento para o golo de Varela, Cristiano Ronaldo não deu uma para a caixa no jogo com os Estados Unidos.

Já deu para ver que o proclamado melhor do Mundo está muito limitado e vamos ver se depois do Mundial não vai logo à faca.

Empatar com os Estados Unidos é melhor que perder mas, caramba, estamos a falar do país onde o futebol dá pelo nome de soccer e tem tanto destaque como por cá o badminton (se calhar um bocado menos).

A equipa portuguesa está destroçada fisicamente. Há que chamar os responsáveis por isto à liça, sendo o maior o dito preparador físico, João Aroso, mas também o responsável máximo, Paulo Bento. Se os jogadores chegaram à seleção mal havia que tratar deles e isso não aconteceu, de que são reflexo as lesões musculares.

Outra questão: quantas horas dedicou o n.º2 da equipa técnica nacional, Leonel Pontes, já apresentado como treinador do Marítimo, à preparação da próxima época enquanto recebia a respetiva diária da FPF?

Todos sabemos como alguns desses jogadores foram obrigados mesmo a ir para além dos seus limites nos clubes que representam mas essa é outra história que se calhar um dia acabará por ser contada. Mas não serve de desculpa.

Os jogadores portugueses não só correm em esforço como também foram mal escolhidos. Bento foi super conservador e voltou a optar por aqueles que fizeram com ele o caminho e não pelos melhores. Sem querer ir mais longe, ficaram em casa Tiago, do campeão espanhol, Danny, Quaresma e Antunes. Davam muito jeito, não davam?

Enquanto continuo à espera que o presidente da FPF se pronuncie sobre mais um desastre que nos coloca à beira da eliminação – quero acreditar ainda no tal milagre -, sobra a desilusão. Se calhar subimos demasiado a fasquia mas a verdade é que merecíamos uma alegria e um esforço extra que não aconteceu.

Afinal o burro não era o outro e o melhor mesmo é perguntar a Carlos Queiroz se, de facto, não andamos todos a dar demasiada importância ao androide que pelos vistos manda na seleção, na FPF e quiçá na freguesia de Santo António. Às tantas fazia-lhe bem ir para o banco, tanto mais que o conhece bem dos anúncios.

De resto, malta, tranquilos: Paulo Bento fica sempre em 2.º!

Atentem ainda neste desabafo do Ricardo Sousa.

Ouvir o capitão da nossa seleção desculpar-se dos resultados dizendo que as outras equipas são melhores que Portugal e que praticamente já sabia que dificilmente lá chegariam é como quem me mata.
Portugal uniu-se em torno da seleção á uma semana atrás, calem-se dignifiquem o Pais que representam no jogo que falta, metam a viola e os selfies na mala e entrem no pais de fininho, porque tanto as escolhas interesseiras que foram feitas por um selecionador que em meia dúzia de anos já se chateou com 50 jogadores, como a prestação de alguns de vocês foram vergonhosas …
Temos dos jogadores mais talentosos do Mundo, se para vocês isso não chega que dirão jogadores de seleções como Irão, Chile, México, Estados Unidos, Gana e muitas outras.
Pela primeira vez na minha vida tenho vergonha de ser Português em termos futebolísticos !!!!!

A que acrescento esta lúcida análise de Eurico Gomes.

Sentimentos à parte.Meus amigos hoje vamos entrar um pouco mais no coração da nossa seleção no que concerne ás opções/decisões tomadas pelo nosso selecionador (ou será aceite?)pelo nosso seleccionador!!!1.º ponto;STAFF técnico, composto por uma equipa remendada com a inclusão de um fisioterapeuta completamente fora do espírito da equipa de portugal requisitado ao Real Madrid,,,tendo nós o GASPAR que é considerado dos melhores e tão boa conta tem dado do seu trabalho. NÃO havia necessidade porque este elemento não trouxe SORTE com tantas lesões nunca antes vistas, coincidência? $Espero que sim!!! Ou imposição de alguém ?? Espero que não..!!Depois, aceitar levar um adjunto que assumiu ser treinador principal no Marítimo antes do Mundial, um erro que será repartido pelo staff directivo porque aceitou e, claro, pelo selecionador que se calhar achou que sem ele as decisões técnicas fragilizavam?? Qual o espírito deste adjunto com as ideias ocupadas noutro projecto? Quando o selecionador diz que toda a estratégia do estágio que antecedeu o Mundial, e mesmo considerando a possibilidade do MILAGRE que pode ainda acontecer, mas que não elimina tudo de menos bom que já aconteceu!! Entendo que as decisões do que falei são também dele e no meu entender não deviam acontecer, proporciona DESCONFIANÇA num ambiente que se quer UNIDO e SAUDÁVEL, deita por terra a não convocação de QUARESMA se for considerado o tal elemento estranho ao grupo(desestabilizador) como se deixou entender!! Assim, a coerência do selecionador fica muito beliscada ou não será??

Enquanto Paulo Bento de desencosta da parede e empunha a espada, reparem: é mais ou menos isto o soccer, só que muito menos interessante.

Portanto, encham os barris pois desta vez vamos ter muita sede.

Nos jornais de hoje é mais uma vez notícia a soberba de Jorge Jesus. Mas também a lamúria de Pinto da Costa.

O treinador do Benfica considera-se o melhor de todos. Ou seja, mais uma vez ficamos a saber que tem bons espelhos em casa.

Quanto ao presidente do FC Porto, continua o seu périplo pelas paróquias nortenhas e como que lamentou o facto de ter não sido incluído no lote dos presenteados com placas e medalhas em 2014 da Câmara Municipal do Porto.

Não sei onde Jesus e Pinto da Costa guardam os seus troféus – mas já vi o 2.º sorrir perante a imagem do seu cão dentro da Taça dos Campeões Europeus -, o que sei é que um vem de uma época fantástica e o outro vem de uma época horrível que até o obrigou a festejar um título daquele desporto onde se marcam golos com a mão sem ser nunca penálti.

JJ tem muito de PC e acredito que PC também já tenha algo de JJ.

Mas uma coisa PC não tem que JJ tem.

JJ está na sua curva ascendente, PC está naturalmente a tentar manter-se no alto nível a que nos habituou mas começa a dar sinais de erosão.

Uma época não pode pôr em causa todo um percurso de sucessos mas até os portistas mais obtusos concluem que o seu presidente já não é o que era. Há coisas que são inevitáveis e no FC Porto cheira a fim de ciclo (pode-se é ter de esperar algum tempo por isso).

Ao conseguir segurar JJ, o Benfica escorou a nova época e o próprio treinador pôde respirar fundo. JJ tem pelo menos dez anos de promissor futuro à sua frente. PC…não sabemos.

Por isso, quando JJ diz que é o melhor treinador do mundo podemos sorrir mas se calhar não anda longe da verdade e até posso dar de barato que não será o melhor mas o 17.º melhor é de certeza, o que já não é mau.

Relativamente a Jorge Nuno Lima Pinto da Costa, natural de Cedofeita, jamais serei capaz de dizer que é finito. O homem tem uma força vital incrível e quando está ferido reinventa-se. Não é propriamente a capacidade do seu presidente que os azuis e brancos devem temer mas o desgaste que está a sofrer, apertado que está por um grupo onde todos contam espingardas quando deviam estar a verificar a contabilidade.

JJ simboliza a nova imagem do Benfica.

FC Porto representa a velha imagem do FC Porto.

Ao não deixar JJ ir para o FC Porto, Luís Filipe Vieira resolveu um problema e criou outro.

Eis a questão.

É quase consensual que a chave hoje está a na comunicação. Só em Portugal se podem conceber autoestradas sem trânsito que custam fortunas aos contribuintes. No mundo globalizado, as estradas estão abertas ao fluxo informativo e quando uma borboleta bate asas no Japão no segundo seguinte esse efeito é sentido em Moimenta da Beira (se bem que dependa da borboleta, se estiver nua chega mais depressa).

Ontem, na SIC, o Nuno Luz, que é aquele repórter que os jornalistas portugueses em geral detestam e achincalham, mas que eu continuo a preferir porque mete o bedelho onde os outros não metem sequer a sombra, entrevistou o enviado especial de a Marca à seleção portuguesa e este queixou-se amargamente do pouco acesso aos jogadores de Portugal, em contraste com o que acontece na “La Roja”, que ainda é campeão do mundo em título.

Bem, o que se passa na seleção não é nada que não se passe nos nossos grandes clubes. Isto é, a seleção desenvolveu o seu departamento de comunicação – até levou para o Brasil um vídeoman que gosta de pôr music hall nas suas produções – e faz o que se chama filtragem de informação, isto é, aproveita o acesso exclusivo para difundir o que julga ter interesse sobretudo institucional. O departamento de comunicação da equipa como que se sobrepõe às centenas de jornalistas presentes, confinados às conferências de imprensa e a 15 minutos de treino aberto (é a mesma coisa que ter sexo mas apenas com direito a ver a rapariga a despir-se).

Dizia o nosso colega de a Marca que não é desta forma que se promovem os jogadores e o futebol e muito menos os patrocinadores. Entendam uma coisa: se nos clubes e na seleção há 15 minutos de treino aberto é precisamente por causa dos patrocinadores que têm os seus painéis no campo de treinos e por mais nada!

Sou do tempo em que se viajava com a seleção – o que ainda acontece para proporcionar à agência de viagens oficial maior receita – e, mais, até se ficava no mesmo hotel. Lembro-me de comemorar, em 86, a vitória sobre a Inglaterra com a equipa, ao lado do selecionador José Torres.

Os tempos mudaram, é certo, mas foi-se do 80 para o 8. Apesar dos cada vez mais numerosos assessores de imprensa, o trabalho dos jornalistas ficou muito mais difícil pois vai-se perdendo o contacto com os protagonistas. A informação veiculado tornou-se bem mais frouxa e ficou aberto o campo à especulação.

Um jogador não se desconcentra por dar uma entrevista. Os jogadores gostam no geral de dar entrevistas. O público gosta de ler estas entrevistas onde o protagonista até pode vender a imagem de quem o patrocina. Mas o medo fala mais alto. Quem é inseguro teme sempre algo. É o caso, manifestamente.

A manipulação da informação tem sempre um mau resultado, sobretudo quando as coisas correm mal.

A tudo isto subsiste ainda o problema dos jornalistas que pactuam com estas situações, que se agacham e que até conseguem fazer as suas carreiras graças às migalhas que lhes são atiradas pelos canais oficiais – o que, no mínimo, é um espetáculo degradante mas pelos vistos com benefícios.

Não é possível construir uma verdade mas é possível fazer passar uma narrativa (a tal palavra que Sócrates aprendeu no curso de filosofia que terá feito em Paris). Porém, também as narrativas se esboroam ao primeiro golpe de vento e no fundo quanto mais mentiras encobrirem mais ajudam os jornalistas e o jornalismo a prolongar histórias que se “vendem” bem. Mesmo quando só se apanha o mentiroso depois do coxo. Ou dos coxos, que os temos com abundância.